O mundo acompanhou hoje a cerimônia de encerramento das olimpíadas. Foram 16 dias de muitas medalhas, quebra de recordes e realização de sonhos. Nós, brasileiros, vimos o SUJO E ESTÚPIDO "brilho" terceiro-mundista ser ofuscado pelas grandes (e pequenas, heh) potências, que, ao contrário do nosso Estado, INVESTEM no esporte.
Parágrafo avulso: bem feito para nós, que ficamos estagnados, aceitando passivamente tudo o que acontece nesse país. Acho que "Brasil", em latim, significa "erro". Investimento nos esportes é sim necessário, e afeta sim o desempenho olímpico. Não estou contente com algumas medalhas de bronze; é preocupante um país com dimensões continentais ter tal desempenho, e ainda se sentir orgulhoso. Ah, e o Cielo só ganhou a medalha de ouro porque treinou nos Estados Unidos. Apoio do Brasil? No máximo, apoio moral.
Voltando ao tema: medalhas, recordes, realização de sonhos. Mas, em meio a tudo isso, um "pequeno" detalhe: e o Tibete? Durante os jogos, mal se falou sobre o assunto. Pelo menos em comparação com os períodos precedentes. Parece que a China conseguiu o que queria: sair com uma imagem de país anfitrião, sorridente, avançado. Mas, para isso, o governo não ficou parado. Veja trechos de algumas notícias:
O artista norte-americano James Powderly foi detido em Pequim quando planejava realizar uma apresentação pró-Tibete durante os Jogos Olímpicos, divulgou a organização "Estudantes pelo Tibete Livre" nesta quarta-feira. Cinco blogueiros norte-americanos, auto-intitulados "cidadãos-jornalistas", também foram detidos na capital chinesa porque estavam pedindo a libertação do Tibete (Folha Online, 20/08/2008).
Uma britânica foi presa nesta quinta-feira em Pequim durante uma manifestação em favor do Tibete e condenada a uma pena de dez dias de prisão na China, informou nesta sexta-feira o ministério britânico das Relações Exteriores (Folha Online, 22/08/2008).
As páginas dos ativistas pró-Tibete foram bloqueadas nesta sexta-feira (22) no centro de imprensa dos Jogos Olímpicos de Pequim, no momento em que os sites informavam que tropas chinesas atiraram esta semana contra manifestantes no sudoeste da China (Folha Online, 22/08/2008).
A China é a nova potência mundial. Prega uma falsa igualdade (vide cerimônia de abertura), gasta milhões na realização do evento, emociona bilhões de espectadores. É moderna. O único problema é que a modernidade chinesa vem acompanhada da regressão dos conceitos de "liberdade" e "autonomia".
Dalai Lama, líder do Tibete e inimigo chinês
que ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1989.
Existirá um tempo em que valores morais serão considerados como "modernos"? Hoje em dia eles não passam de pura cafonice, conservadorismo. Ser ético e humano é "andar para trás". Acredito com John Gray quando ele diz, em sua obra, "Cachorros de Palha"*: "Há progresso no conhecimento, mas não na ética". O homem não evoluiu nada em termos de lógica política ou valores éticos. A tecnologia, que poderia construir e desenvolver, destrói, elimina, mata (o holocausto judeu foi bem eficiente, graças à tecnologia dos gases letais).
Será que ainda leremos uma manchete que diz: "China garante a autonomia do Tibete"? Provavelmente não, mas não custa nada torcer. Se torcemos no esporte por um país que mal tem investimentos nessa área, gritar "TIBETE LIVRE" é fácil. Se tudo der errado, atacamos a China com algumas Hello Kitty's falsificadas. Ação e reação, simples assim.
* O título do livro, coincidentemente (ou não), é uma referência a um poema de Lao-Tsé, filósofo taoísta. Os cachorros de palha eram reverenciados em rituais chineses, e logo após as cerimônias, quando não eram mais necessários, queimados. Segundo Gray, o mesmo está acontecendo com os humanos: estão sendo eliminados. Vide catástrofes naturais, aquecimento global e escassez de recursos.