domingo, 11 de outubro de 2009

Dormir... Flagelar... Viver.

Todo mundo diz que devemos viver o presente, sem olhar para o passado ou incomodar o futuro. Eu não. Acordo em diversas noites simplesmente pensando no rumo das coisas, como elas se modificaram ou se modificarão. Fico procurando significados em diversos gestos e atitudes mas, na maioria das vezes, pego novamente no sono. E sonho.

Sonho com um futuro digno, sem dificuldades ou conflitos. Sonho com a mulher ideal, que aparece ainda disforme em meus pensamentos. Tudo vai bem. Os níveis de endorfina parecem estar altos. Esboço um sorriso e... Acordo. Não vejo nada além do nada. Novamente me vejo envolto em sinapses catastróficas e com pouco sentido. O sorriso desaparece de imediato. Penso no presente, no futuro. No passado. "Como seria não existir? E se eu simplesmente não tivesse nascido?". Um arrepio percorre meu corpo, uma sensação de vazio toma conta do meu peito e me sinto terrivelmente mal [Já pensaram em simplesmente não existir?]. Torço para nunca mais ter pensamentos deste tipo, mas eles, como fantasmas teimosos, sempre retornam. Sinto medo. No fim de tudo isso, tenho uma sombria resposta. Sem minha presença, o mundo continuaria exatamente igual. Desgraças e intolerância ainda seriam sinônimos de coexistência pacífica; Bush e Dalai Lama ainda teriam existido. Minha ausência afetaria 10 ou 20 pessoas, se muito. Num mundo de bilhões de pessoas, isso não é nada. O medo passa, então, à angústia.

Entro então num ritual de auto-flagelação. Qual é, afinal, o sentido da minha existência? A resposta mais imediata e otimista se baseia em algumas premissas biológicas: "nascer, desenvolver, reproduzir, morrer". Neste momento, me sinto como uma mera máquina cumprindo padrões sociais. Acordar, sorrir algumas vezes, dizer algumas palavras e representar no teatro da maravilhosa modernidade, sem nenhuma plateia. Na representação deste grande teatro, todos são atores. A maioria deles não atinge nem mesmo a mediocridade. Volto para casa, sorrio mais algumas vezes e sinto a realidade tomar conta de mim. Fico desapontado pela falta de perspectivas e respostas e, como uma companheira sombria e agradável, a noite chega. Durmo, mas não sem antes perceber a verdadeira significação da solidão. Mais sonhos e cada vez menos endorfina. Acordar... Idealizar... Dormir... Flagelar... Viver. Tudo de novo.