domingo, 12 de maio de 2013

Momento fugaz, paixão idealizada e plenitude distante

Geralmente acordo querendo evitar a tradicional indisposição que, no meu caso, ultrapassa os costumeiros devaneios vazios de uma mente perturbada e (ou) um tanto inquieta. Estranho notar como os pensamentos ganham forma, fundem-se e acabam se tornando uma tenebrosa, confusa (e quase palpável) primeiridade psicológico-sentimental. Quisera eu que isso fosse restrito a dias mais conturbados ou abalados pela necessidade urgente de paixão irrestrita. Mas não.

A percepção é inicial, o lampejo, momentâneo, mas intenso; é o primeiro passo rumo à complexidade ainda desconhecida... O turbilhão que se forma já entrelaçado em uma rede incompreensível de falsos amores torna tudo visceral: complexo, mas incompleto. Seria o surgimento de um ser obstinado, um protótipo de amante mal amado? A encarnação de um companheiro idealizado por psiquês abstratas, estimulado por estúpidas Psiquês? Um Eros desenganado, punido (além da mitologia) por Afrodite? Sabe-se apenas que é um momento fugaz – mas ora, (in)felizmente os dias se arrastam por sucessivos e incontáveis momentos. Isso cria constância. Vira paranóia. Chega ao terrorismo psicológico que não é vencido por falsas autoafirmações. Percepções sucessivas jamais podem ser comparadas à plenitude de um momento.

O gatilho de tudo não é nada original, pelo contrário: recorrente. Vontade de ser idealizado, em vez de idealizar. Não ser venerado, mas minimamente amado por quem possa vencer a subjetividade pueril das afinidades inexistentes. Por quem possa, de fato, ser capaz de tocar. Cativar.

O desejo? Apenas o de muitos: encontrar alguém que realmente enxergue (e não apenas veja). Quem procura? O sentimental com um pouco sentimentalismo barato, o incansável que, ainda hoje, encontra subsistência para as necessidades da alma no platônico, intocável e quase sempre inalcançável (ou alcançável apenas de maneiras bruscas e indesejadas).

Amor também é rasteira que machuca, faz sangrar (e se sente). É ferida que não cicatriza com o passar do tempo - mas nem por isso indesejável. É o indescritível descrito em incontáveis palavras. É a busca incessante regada por decepções.

A rosa, o principezinho, as putas tristes envoltas em memórias, as cartas sem sentido e incompletas na gaveta... Personagens e objetos travestidos de amor. Tudo isto é paixão – ainda que distante.