quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Café da manhã de hotel

Aproveitar esta mesa ou dormir até mais tarde?
Café da manhã de hotel é uma relação de amor e ódio. Você fica perdido em meio a tanta comida, e até seu lado mais otimista desconfia de que tudo aquilo está incluído na hospedagem. A tentação inicial é procurar alguma plaquinha que diga: “Rosquinha extra: R$2. Máximo de quatro panquecas por pessoa” – ou algo equivalente. Fica feliz quando não encontra restrições, naturalmente. Imediatamente, imagina uma espécie de open bar de iogurtes e sucos. E sem 10% do garçom, taxa de consumação, comandas ou o que for.

O lado odioso é precisar seguir o horário do hotel. Não se pode, simplesmente, querer tomar o café às três da tarde. Uma pena. Por isso, tomar café da manhã em hotel exige planejamento prévio. Um cronograma.

- Que horas vam’lá no café da manhã? – pergunta a mulher.
- Amanhã a gente vê – você responde.
- Mas está incluído, Jorge. Está incluído! Não podemos perder o café. Já viu como é bom o café da manhã do hotel? Precisamos decidir o horário para nos planejarmos.

E assim começa a burocratização dos seus momentos de folga.

- Tanto faz, Joana. E se eu quiser dormir até mais tarde?
- Mas Jorge, temos que acordar cedo pra aproveitar o dia – retruca a Joana.
- Eu aproveito o dia dormindo, Joana. Dormir pra mim é ganhar tempo. Aliás, se eu ficar cansado não aproveitarei mesmo o dia. Quem é que consegue sorrir para o sol com os olhos cheios de remela? – poetiza.
- Então precisamos dormir cedo.
- Mas já está tarde...

Impasse.

Depois de tomarem banho, o casal deita na cama.

- Decidiu, Jorge? – questiona a Joana.
- Decidiu o quê? – você mal-humoriza.
- O café, Jorge. Está incluído, lembra?
- Hm. Amanhã a gente decide! Na pior das hipóteses, vamos ali naquela padaria da esquina, almoçamos direto, sei lá. Se preciso, eu passo o dia com um Doritos, mesmo.
- Hmm. Não, Jorge. Pagamos caro... E café de hotel é ótimo! Aquelas panquecas são uma tentação – argumenta a esposa, gesticulando.
- Tentação é dormir.
- Você não tem jeito, Jorge. Então boa noite.
- Boa noite, Joana.

***

Dia seguinte, oito horas da manhã. O telefone do quarto toca e a Joana atende, animada. Era um casal de amigos que também estava no hotel.

-  Oooi, Cláudia. Sim, já vamos descer! Sim, claro. Senão não pegamos um bom café. Um beeeijo.

Desliga o telefone.

- Jorge. Acorda, Jorge.
- Grnhmmmmn.
- Vamos lá, se levante, homem. O pessoal já ligou. Temos que nos aprontar para tomar o café! Está incluído na diária, lembra?
- Nhmmpffn...
- JORGE!

Você acorda.

- Joana... OS SABONETINHOS TAMBÉM ESTÃO INCLUÍDOS E VOCÊ NÃO USA NENHUM DELES! – contesta, pulando da cama.
- É diferente, Jorge. Usaria se fossem comestíveis.
- Não sabia que eu tinha casado com um dinossauro. Que apetite, hein – você ironiza.
- Ihhh. Deixa de conversa. Enquanto eu tomo uma ducha vê se lava esse rosto.
- Zzz.

Feita a toalete, ambos correm e encaram o elevador. Encontram com o casal de amigos.

- Ô Jorge. Melhora essa cara, rapaz. Está cedo, mas sabe como é, né? Está incluído na diária... – explica a cônjuge.
- É, Jorge. E você pode até afanar alguns pãezinhos, heh. – sugere o cônjuge.

O grupo chega ao andar do café da manhã, ainda quase vazio. Você, ainda meio descabelado e tentando se lembrar se trocou a camisa do pijama, pega um pratinho. A partir de então passa a ser um novo Jorge. Uma espécie de... Jorgeossauro. Depois de tanta conversa, decide destruir pelo menos metade dos pãezinhos com sua mandíbula. Ficaria com manteiga besuntada até nas sobrancelhas, e beiraria a overdose com sucos e bolos artificiais. Sua frustração seria doce, afinal.

Antes de chegar à mesa, o saldo é de três pães de queijo e duas rosquinhas já devorados. Afinal, estava tudo incluído. Uma delícia.
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