quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Iniciação Científica como ferramenta de trabalho

Na era do conhecimento, a pesquisa acadêmica aparece como alternativa e abre novos caminhos no mercado profissional.

“Omnia mecum porto”: Tudo o que tenho (de valor), carrego comigo. A frase de Menos Bias (Bias de Priene), sábio grego da antiguidade, foi dita na iminência da invasão da cidade de Priene. Enquanto todos estavam em pânico, juntando seus pertences para fugir, ele permaneceu de mãos vazias. O que ele quis dizer é que já tinha consigo o mais essencial: o conhecimento. Frase antiga, pensamento contemporâneo. É sabido que a cultura do século XXI vai além do trabalho mecânico e o automatismo de outrora; ela considera o conhecimento e a capacidade de utilizá-lo frente às situações do cotidiano como sendo característica essencial para os meios acadêmico e, ainda, profissional. É preciso, mais do que realizar e mostrar resultados, refletir sobre a atividade desempenhada.

Neste sentido, atendendo aos anseios – e crescente necessidade – em buscar o conhecimento, uma alternativa está presente em grande parte das universidades brasileiras: a Iniciação Científica. Os projetos de pesquisa envolvendo os universitários são uma ótima alternativa para aplicar os conhecimentos adquiridos nas mais diversas áreas e, ainda, repassá-los para a sociedade. Segundo Mário Braga, bolsista de iniciação científica há dois anos e meio, “a pesquisa é interessante porque, além da contribuição para o currículo, você cria um olhar crítico no ambiente de trabalho. Você acaba agregando conhecimento e tem um diferencial em relação aos concorrentes”. Para a mestranda em “Comunicação e Sociedade” e editora de reportagem da TV Alterosa, Kelly Scoralick, “a pesquisa dá a oportunidade de parar e repensar a atividade profissional. Não podemos nos distanciar muito da sala de aula, porque senão podemos mudar nossos valores enquanto estudantes, por conta da correria do dia-a-dia. O mercado e a academia precisam andar juntos, ter o complemento um do outro”.

O bom profissional do século XXI deve compreender a sociedade em que vive, e a Iniciação Científica é um importante passo para que os alunos possam refletir o mundo ainda no período da faculdade, visualizando novos caminhos e ampliando seus horizontes. Maximiliano Henriques, gerente comercial da empresa de engenharia consultiva SNC-Lavalin Minerconsult, destaca que, ainda que desenvolvam pesquisas fora de sua área acadêmica, “esses alunos, na sua maioria, aprendem algo que levarão consigo pelo resto da vida profissional, como trabalhar em equipe e ter responsabilidades”. Ele ressalta ainda que “esse perfil reflexivo ajuda em muito no dia-a-dia de trabalho. Os melhores profissionais com os quais trabalhei até hoje quase sempre tiveram esse perfil e se destacaram também por isso. Ele ajuda a conviver, a entender e a respeitar os colegas de trabalho”. Henriques mostra também que uma das dificuldades do mercado profissional envolve o gerenciamento de pessoas, e que o profissional com um perfil acadêmico, reflexivo, se destaca na área empresarial. “Administrar as diferenças, vaidades e ambições acaba sendo a grande tarefa de um profissional, principalmente se o mesmo exerce uma função gerencial. Gerenciamento de pessoas é difícil, muito difícil! Então, se um profissional é tecnicamente bom na sua área, com boa experiência profissional e de vida, e ainda tem esse perfil reflexivo, tenho certeza de que ele terá mais condições de chegar a níveis elevados na sua carreira.”

Novas Oportunidades

O meio acadêmico oferece hoje, por meio de encontros, conferências e congressos, uma oportunidade ampla de disseminação dos trabalhos produzidos. Como todos eles oferecem certificados, servem também para rechear o currículo. Além disso, a participação nestes eventos pode significar também novas oportunidades como, por exemplo, estudar fora do país. Muitos programas de intercâmbio levam em consideração nos seus processos seletivos a apresentação de trabalhos de Iniciação Científica e participação em congressos. A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é uma delas. Segundo a secretária executiva da Coordenação de Relações Internacionais (CRI) da instituição, Josefa Ferreira, “o processo seletivo considera a Iniciação Científica devido à importância que a mesma tem no desenvolvimento acadêmico dos alunos que a fazem, pois oferece a eles uma oportunidade de participar de um projeto de pesquisa bem estruturado e com professores altamente qualificados”.

Além de aumentar os índices de sucesso e aproveitamento no mercado profissional, o aluno que optar pela Iniciação Cientifica tem, ainda, outra possibilidade de crescimento profissional: a vida acadêmica. Para Paulo Roberto Leal, professor e colaborador do Programa de Educação Tutorial (PET) da Faculdade de Comunicação, “cada vez mais as universidades precisam de gente com titulação acadêmica”. O aumento no número de novas universidades e faculdades nos últimos anos contribui para isso: segundo o Ministério da Educação, foram criadas 14 novas universidades federais nos últimos sete anos. Vale a pena correr atrás desse novo mercado e se dedicar a desenvolver alguns artigos relacionados a assuntos de interesse. “Quanto mais cedo melhor”, afirma Paulo.

*Artigo publicado na revista Ecaderno (www.ecaderno.com)

Nenhum comentário: