domingo, 28 de dezembro de 2008

Vejam só a Veja

Há um tempo atrás eu estava lendo uma matéria da revista Veja, publicada em 26 de novembro de 2008. O título era: "Sob o signo do mau humor". Título até aceitável, já que a publicação tratava de um livro do alemão Theodor W. Adorno, que só agora foi lançado no Brasil, depois de cerca de meio século.

Para quem não conhece o Adorno, uma breve explicação: ele é conhecido por suas idéias (brilhantes) que, na maioria das vezes, tinham cunho pessimista (até mesmo... catastrofista). Foi um dos filósofos mais influentes do século XX, e foi o expoente da chamada Escola de Frankfurt, que também contou com a presença de Herbet Marcuse e Max Horkheimer. Eles propuseram a "Teoria Crítica da Cultura", que relacionava o capitalismo e os totalitarismos numa mesma lógica histórica. Com Adorno, a teoria crítica ia de encontro à "razão burguesa" iluminista. Junto com Horkheimer, ele escreveu uma de suas obras mais importantes: "Dialética do Esclarecimento". É neste livro que o termo "Indústria Cultural" aparece pela primeira vez.

Pois bem. A matéria explica as principais idéias de Adorno, suas convicções, e termina assim:

No fim da vida, Adorno viu-se sob o fogo pesado do movimento estudantil. Acossado por barulhentos protestos, teve de interromper um curso que dava em Frankfurt. Sempre reticente com os movimentos de massa, Adorno reclamava, em uma entrevista de 1969, do patrulhamento que sofrera então. 'Jamais ofereci em meus escritos um modelo para quaisquer ações. Sou um homem teórico', disse. Uma lição que os acadêmicos de passeata do Brasil de hoje, prontos a largar os livros para invadir reitorias, poderiam aprender.

Um pouco tendencioso, não? A revista pegou este gancho e criticou descaradamente as ações estudantis no país. O que os estudantes devem fazer, então? Deixar que reitores comprem lixeiras de mil reais e gastem uma fortuna para benefício próprio? Ou esperar sentados que a qualidade de ensino melhore? Acho que não. Não defendo, entretanto, que exista a depredação do patrimônio como uma forma de protesto. Defendo que haja a luta por direitos e melhores condições! Sem mostrar que não somos apenas estudantes passivos, inertes, não conseguiremos nada. Sempre foi assim. Sem luta, não há vitória.

Mais uma vez a Veja mostrou a que veio... Para saberem mais, leiam o Dossiê Veja, no blog do Luís Nassif. É chocante.

"A decadência da oferta espelha-se na penosa invenção dos artigos para presente, que já pressupõem o fato de não se saber o que presentear porque, na verdade, não se tem nenhuma vontade de fazê-lo" (T. Adorno).

5 comentários:

Rafael M. disse...

Não só a Veja, como todo o grupo Abril é uma putaria sem fim. Me sinto um idiota por ter assinado Quatro Rodas durante 9 (sim) anos, testes começaram a ser comprados e etc. Até pouco atrás eles tinham um plano idiota de roubar as idéias e expressões dos melhores blogueiros do país, como o Cardoso:

http://www.contraditorium.com/2008/09/05/eu-no-sou-bab-do-marinho-que-dir-do-civita/

Abração Peths!

Anônimo disse...

E o pior é que tem gente que não percebe tais opiniões...
Mas desde quando um "movimento" foi apioado pelas classes "dominantes" ?
ra.

Feliz ano novo se nao nos falarmos até lá e mttoooooooo sucesso em 2009!!!!

Caio Paranhos disse...

Essa Veja... Que decepção. Mas nada vai estragar minha alegria.

Feliz ano novo, Lucas. Agora só vou te chamar assim, adoro ser do contra!

Anônimo disse...

Rapaz, eu parei de ler a Veja depois que eu vi uma reportagem falando que o Legião Urbana e o Los Hermanos encarnavam personagens em nome de estratégias de marketing...
Dá vontade de ir ao banheiro e me limpar com a revista e mandá-la de volta para a Abril com o título desse post! hehehehe

ps.: Feliz Ano Novo, rapaz!

nismaniac disse...

interesting