sexta-feira, 2 de abril de 2010

Crise ideológica versus Jornalismo

Não é exagero dizer que vivemos num mundo em crise ideológica. Ao menos um mundo em que a ideologia está, em grande medida, sufocada pela massificação midiática e pela superficialidade das atitudes e ações. Priorizamos o banal e o passageiro, e nos esquecemos do nosso próprio passado de lutas e conquistas; nos esquecemos de parar e refletir sobre tantas meias verdades. Somos induzidos a largar os livros e conversar sobre tantos brothers país afora. Somos educados a deseducar.

Com tantas necessidades e posturas a serem modificadas mundo afora, é quase uma utopia esperarmos atitudes que levem em conta o bem comum. Em meio a tantos interesses torpes, o jornalista é um profissional que rema contra a maré: trabalha em uma empresa privada, buscando defender os interesses públicos. Na grande maioria das vezes isso não ocorre, seja por falta de interesse do comunicador ou pela falta de liberdade dentro das empresas. O jornalismo de hoje pode ser considerado como uma sombra daquele que buscava a mudança e a politização dos leitores. Jornalismo hoje é Indústria, com direito até mesmo à famosa divisão do trabalho. Apurar, transcrever, redigir, editar e diagramar são algumas das funções dos proletários da informação.

Vivemos numa época de censura velada. Por mais que os jornalistas se empenhem em produzir informação de qualidade e agir em consonância com a opinião pública, os interesses econômicos e individuais são os principais itens de uma linha editorial. Antigamente vivíamos numa época em que expor opiniões era atitude honrosa e patriótica. Era uma “transgressão” que valia a pena cometer, e o “proibido proibir” era um brado encorajador. Hoje é tudo uma questão de dar um “jeitinho jurídico”: uma ação aqui, uma censura acolá e tudo fica bem. Desta maneira, é quase impossível um profissional desta área não ser desacreditado de seus objetivos principais. Como no filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, o jornalista está produzindo notícias como um robô. Perdem os jornalistas, perde a sociedade, que é alimentada diariamente com notícias sem consistência.

Numa sociedade dita imagética, deveríamos ter vergonha de nos olharmos no espelho. O que refletimos não é nada além de uma mistura de futilidade e descrença, fruto do nosso descaso pela mudança. Para que os jornalistas não sejam totalmente incorporados a essa realidade e ajudem na mudança crítica da sociedade, muito ainda deve ser feito. As soluções vão muito além do bom senso, e exigem ética profissional, respeito próprio e, acima de tudo, ousadia. Jornalistas trabalham por meio das palavras, mas lutar apenas com letras e sem nenhuma atitude é uma batalha perdida pela ignorância.

3 comentários:

A felicidade é um estado de espirito disse...

Oi, concorodo com vc em numeor genero e grau, e parabéns pelo belissimo post bjs!!

Caio Paranhos disse...

Bem, nunca analisei por esse lado nem refleti a fundo sobre o assunto. Posso chegar, então, à conclusão de que você, como jornalista, fará diferente?

Paula Duarte disse...

Esse post faz pensar e questionar, características de um bom texto. Quando se trata de "censura velada" ainda podemos discutir a auto-censura, não é? Muitas vezes o jornalista, temendo ser podado pelo veículo, não arrisca. Ele está condicionado a se enquadrar previamente. Sem o exercício da tentativa.
Também pergunto: qual o papel da Academia em relação a esse "jornalismo acomodado"? As novas diretrizes do MEC não contribuem ainda mais para essa prática pouco crítica?
No mais, fico com sua última frase: "lutar apenas com letras e sem nenhuma atitude é uma batalha perdida pela ignorância"...
E Sobre a "quase utopia" que você fala, eu fico com Eduardo Galeano: "A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar"