quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Braço forte, mão amiga - Parte III

Agora minhas aventuras no Alistamento Militar já deram conta de uma pequena trilogia. E vai render mais. Se você ainda não leu os dois primeiros “capítulos”, clique aqui e aqui.

Cheguei ontem (13/01) na junta militar com dois amigos, o Rafael e o Lucas Gabriel, às 7:45, quinze minutos antes do horário marcado para o início das atividades. A sala de espera já estava tomada pelo excesso habitual de testosterona, com dúzias de marmanjos se espremendo nos bancos. Fiquei de pé até os primeiros serem atendidos, observando toda a movimentação, em silêncio. A falta de educação de alguns militares era evidente. Em seguida, me sentei, mas logo fui removido para a fileira do lado, para que outros também pudessem ter lugar. Consegui pousar meia nádega na ponta de um banco. Olhei feio para o conscrito à minha esquerda – que estava com as pernas inconvenientemente abertas – procurando espaço para a nádega direita. Me acomodei, a contragosto do marmanjo adjacente.

À minha volta, o ambiente já era familiar. As velhas divisórias, os cartazes, o teto alto, a atmosfera arrogante. Tudo bem inconfundível, inclusive alguns rostos, já conhecidos de outras etapas do alistamento. Após um minuto de autismo voluntário, percebi que conversas vazias e piadinhas povoavam todo o ambiente, mas não disfarçavam o clima de apreensão. Cada nome chamado era um zumzumzum. Todos prestavam bastante atenção na lista de nomes, lida rapidamente. Quem “dormia no ponto”, era prontamente acordado pelos militares, de um jeitinho especial. Algo do tipo “WTF? Wake up and fight, asshole!”.

Aqueles que haviam conseguido meios não tão burocráticos para serem dispensados sorriam, discretamente, com um ar superior. Alguns até ousavam dar uma boa risada, perto de algum conhecido. Naquele momento, muitos possuíam seu momento de glória particular. Fala de um deles, a um amigo: “Ah, agora vamos ver se nosso peixe funcionou”.

Funcionou. O peixe virou pássaro, e os amigos saíram dali voando, rumo à liberdade. Com o perdão da metáfora terrível.

Acabei ficando sonolento, ao ver toda aquela movimentação padrão dos moribundos que ali estavam: fila e, em seguida, desânimo ao tomar conhecimento da designação; ou, mais raramente, fila e saudações felizes aos colegas, ao irem pegar o comprovante de dispensa. Tudo isso dezenas de vezes. Resolvi me livrar do tédio, olhando para a TV. Um DVD do exército estava parado no menu principal, e o título dizia “Operação nãoseioquelá – Juiz de Fora”. Ninguém ousava apertar o play, e aquilo estava começando a me intrigar. Quando ouvi pela décima quinta vez o trecho da musiquinha infernal que acompanhava o menu, uma crise incontrolável de TOC começou a me aterrorizar. Meus instintos começaram a falar mais alto. Remexi-me, procurando alívio para aquela situação e, quando já estava pensando em cometer algumas sandices, um oficial pediu para um marmanjo apertar o bendito botão. Não foi uma escolha muito sábia; talvez tenha sido melhor ver o maldito menu infinitas vezes, mesmo com aquela musiquinha.

O que eu vi foi aterrorizante; ou melhor, ainda mais entediante. Não percebi erros grotescos de português durante o vídeo, como quando fui ao quartel, mas as imagens e a edição eram... estranhas. Fiquei vendo um helicóptero pairar no ar por vários minutos, de diversos ângulos. A imagem não tinha emoção nenhuma, e não me comoveu. Em seguida, cenas de rapel (no helicóptero) foram exibidas. Foi quando percebi que havia dois militares pendurados por um cabo (até aí tudo bem), e a música de fundo era... Love Generation. Sério, isso soou um pouco estranho. Foi aí que toda a minha malícia começou a entrar em ação... LOVE GENERATION? DOIS MILITARES PENDURADOS JUNTINHOS? Heh. E mais: o Exército vive promovendo o patriotismo, certo? Então, por que não usar músicas brasileiras? Aposto que quem editou o vídeo não entendia bulhufas de inglês. E de publicidade. De resto, só ouvi algumas músicas com algumas letras pornográficas (como me alertou o Rafael), enquanto os soldados marchavam disciplinadamente. Por fim, aparecia um soldado bebendo água, demoradamente. E foi só o que consegui ver.

A partir daí fui chamado, e assinei umas cinco listas. Depois esperei em mais umas duas filas. Vi muita gente sendo dispensada. Mas eu, com minha imensa sorte e inacreditável influência no meio militar, não fui. Vou me apresentar em outra base militar no dia 19, fazer mais exames, e ver tudo começar de novo... Ainda dá para ser dispensado, embora eu ache que eles gostaram de mim. Aguarde novidades.

- Para constar: não tenho nenhum tipo de preconceito! Somente o que fiz neste texto foram algumas observações, fruto de uma mente perspicaz e um pouco impura.

4 comentários:

Anônimo disse...

é, Peths, acho que eles gostaram mesmo de você :~
e tocar Love Generation foi sacanagem, shaoiheiahe.
to torcendo pra ser dispensado! o/

isa disse...

hahahaahah
peths, você VAI servir, desculpa te falar isso(aliás, eu e anderson viemos falando isso há bastante tempo,que eu me lembre.)

besos, cariño.

Bárbara Riolino disse...

Lucas,
Cada vez mais vc me surpreende com seus textos. HILÁRIOS!
Tá escrevendo bem, rapaz!
Observação muito bem observada (perdão pela redundância) sobre 'Love Generation'.

E que vc seja dispensado!

beeeijos

PS: mooooooorra de inveja querido! Estou livre de minhas grades dentais muhahahahaha (risada malígna!)

Anônimo disse...

SE FODEU! HAHAHA

Quer dizer, nos fodemos. Temporariamente.

Cara, não lembro direito uma música lá que dava a entender algo do tipo "venha, esfregue-se e sinta o ritmo..." e os militares deitados se rastejando.

Queria saber qual a INCOMPETÊNCIA COMPLETA, MACIÇA E SUPREMA que editou aquilo pior do que aquele filme do Roque Santeiro que fiz. Pelo menos a trilha musical tava de acordo...